terça-feira, 5 de julho de 2011

Queda livre nos Cyber Lions


Depois de se tornar uma das referências mundiais em criatividade digital com a introdução da categoria Cyber em Cannes em 1998, o Brasil completou na edição de 2011 cinco anos de declínio linear na quantidade de prêmios conquistados. Os banners que levaram o Brasil ao seu ápice em 2005, com 20 Leões, GP e a DM9DDB conquistando o posto de Cyber Agency of the Year, ainda renderam boa parte da boa safra de Leões conquistados nos dois anos seguintes. Em 2008, a performance se reduziu para sete Leões e minguou de vez nos últimos três anos, com dois Leões em 2009 e apenas um em cada uma das últimas edições dos Cyber Lions. Os banners, antes o grande trunfo brasileiro, agora são apontados como os principais responsáveis pela estagnação brasileira no Festival. Nos comentários do presidente do júri deste ano, Nick Law, da R/GA de Nova York, os banners e os sites foram vistos este ano “quase como que categorias marginalizadas”. Os três GPs concedidos, por sua vez, ilustram os caminhos em que a indústria está sendo mais bem-sucedida na busca por inovação. Nesse sentido, o Brasil tem muito a aprender com os cases “Old spice body wash”, da Wieden + Kennedy para Old Spice, sequência digital do filme premiado com GP no ano passado; “Pay with a tweet”, da R/GA para Innovative Thunder; e “The wilderness downtown”,¬ da Chris Milk para o Google. 
Agência - Raphael Vasconcellos
“Para melhorar, precisamos fazer três coisas: 1) abandonar os banners como categoria criativa e investir nosso talento publicitário em outras áreas, como a publicidade em mobile. O Brasil foi o segundo país que mais inscreveu banners no Festival. Enquanto o mundo inteiro inscreveu 298 banners no Cyber (11% do total), quase 20% das nossas inscrições foram banners. Dos 83 prêmios distribuídos no Cyber, apenas um foi para banner; 2) melhorar a qualidade técnica dos nossos trabalhos, principalmente websites e aplicações para comunidades. Essas são soluções construídas com tempo, e não apenas nas semanas que antecedem ao festival; 3) o Cyber tem que deixar de ser território apenas das chamadas agências digitais e passar a ter as grandes agências brasileiras apostando no meio digital para liderar as grandes campanhas de marca no Brasil. O presidente do júri resumiu que o Cyber deveria reconhecer tanto o talento que vem da ‘Madison Avenue’ quanto a inventividade do ‘Silicon Valley’. E isso foi uma difícil missão ao julgar os 2.823 trabalhos do Cyber. Aqui vale a verdadeira reflexão sobre nosso resultado no Cyber: podemos considerar o Brasil uma ‘Madison Avenue’ ou um ‘Silicon Valley’?” 
Cliente - Nivea Regina Ferradosa
“Quando vemos os resultados do Cyber Lions de Cannes deste ano, podemos notar alguns pontos em comum entre os premiados: inovações no modo de utilizar as ferramentas que a web disponibiliza e conteúdo interessante pensado genuinamente para internet. É uma tendência que já é celebrada desde 2007 em Cannes, numa edição que consideraram como o fim de ‘A Era do Banner’. Mas o banner continua ocupando papel importante ao varejo, pelo impacto, e pode ser criativo. Quando se analisam os pontos que mencionei, inovar tecnologicamente e conteúdo específico para web, entende-se quais desafios que dificultam, por enquanto, o reconhecimento aos brasileiros no Cyber Lions. Fazer conteúdo pensado para web (que frequentemente passa dos tradicionais 30 segundos), realizar campanhas de longo prazo, que promovam relacionamento, engajamento e desenvolver tecnologia digital exigem investimento, planejamento e continuidade das ações. Certamente, num futuro breve, a maior penetração de internet rápida, os usuários mais habituados com recursos avançados, e a busca por investir em produção pensada para a web trarão os prêmios nos festivais internacionais. A criatividade, já temos no Brasil...”
Agência - Guga Ketzer
“Fracasso, vergonha, vexame. A Inglaterra não ganhou nenhum Leão de Ouro em filme. É mais ou menos assim que os ingleses estariam se sentindo se eles fossem brasileiros. Mas não estão. Justamente porque a baliza deles não é e nunca foi apenas Cannes. Só que estamos fazendo exatamente assim com Cyber. Antes de bradarmos a vergonha, o fracasso, acho que a gente precisa entender o porquê do nosso sucesso passado e o quanto ele está afetando nosso presente. Até porque nunca fomos os reis da internet mundial (coisa que os ingleses sempre foram em filme). Mandávamos numa parte do jogo que vencia festival, mas hoje não ganha mais nada. Se a gente quiser ganhar em Cannes, a gente tem que parar de trabalhar para ganhar em Cannes. Um festival não pode ser o guia da nossa indústria. A questão é muito mais ampla e profunda. Temos bons projetos digitais e muito talento no país. Precisamos experimentar mais, nos expor mais. Criatividade é um meio e não o fim. É um vetor para potencializar o resultado. E não o resultado. Se não estamos indo bem, o que mais temos a perder? Então por que não relaxar e fazer, fazer e fazer. Sem a responsabilidade de vencer, mas de conquistar.” 
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Agência - André Matarazzo
“Eu acho que temos que parar de equalizar o ‘resultado de Cannes’ com a qualidade do que se faz no Brasil. É extremamente míope achar que não temos nada de bom. Lembro quando estávamos batendo palmas pelos grandes prêmios de outrora em Cyber Lions, tínhamos esquecido de perguntar quantos (todos?) eram fantasmas. Cannes é um balizador sim, mas está longe de ser uma medida de criatividade de um país.” 


Fonte:meioemensagem.com.br

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